A gente até tenta fazer um cronograma bonitinho, limpa a mesa, abre os livros, os cadernos e começa a estudar. Mas de repente, vem uma notificação do celular, uma pessoa chega ou o amigo chama, ou bate um sono… Bem, este é o desafio de todo estudante: continuar o aprendizado em casa de forma eficaz. Não é à toa, que praticamente todas as escolas tem a prática do dever de casa, o que seria uma forma de incentivar, cobrar e até mesmo organizar o estudo longe da sala de aula.  Mas será que é suficiente apenas fazer os deveres?

Sabemos que a importância do estudo em casa é algo de que nem todos estão convencidos. Há muitos estudantes e até mesmo pais, que pensam que tudo se resolve na escola. Na verdade, a escola tem uma função bem clara de sistematizar e coordenar um caminho de aprendizagem que não se passa unicamente em seu ambiente. A escola dá ferramentas, mas quem vai desbravar o mundo é cada estudante e isso, não se faz durante as cinco horas e meia que eles ficam sentados nas carteiras dos colégios. Além dessa dificuldade de compreender o papel do estudo em casa, sabemos que muita gente ainda não sabe como se planejar e então, o que poderia ser uma ajuda potente no aprendizado, torna-se um peso para a família toda. Nesse texto, procuraremos refletir sobre o papel dessa prática e daremos algumas pistas de como organizar bem o tempo para que o estudo seja verdadeiramente eficaz.

 

A importância do estudo em casa

No livro “Neurociência e Educação: como o cérebro aprende” (Artmed, 2011), os pesquisadores brasileiros Ramon Consenza e Leonor Guerra discutem a importância de retomar conteúdos, fazer exercícios e continuar estudando o que foi aprendido em casa. Para eles, esse mecanismo é o que permite o processo de “repetição, elaboração, consolidação” entrar em cena. Os conteúdos aprendidos precisam passar por um tratamento mental para que se tornem conhecimento.

Muitos estudantes saem das aulas com a sensação de que aprenderam e dão por suficiente algumas poucas anotações durante a aula. No entanto, eles estão cheios de informações. Para que elas se convertam em um tema de domínio do estudante, precisam passar por um caminho de constantes repetições. A repetição cria sinapses neuronais que é a chamada elaboração. Na medida em que as sinapses são elaboradas e vão sendo acessadas, aquele saber torna-se parte do pensamento do estudante no processo de consolidação. Essas três etapas ocorrem na escola em diversos momentos, mas isso não é o suficiente.

É preciso repetir os conteúdos diversas vezes em casa também, caso contrário, as sinapses não se formam e o saber não é apropriado.

Vencendo os desafios

Ao pensarmos sobre a importância do estudo em casa – que não se resume apenas em fazer o dever indicado pelo professor – nos deparamos com as nossas habituais dificuldades de organização e manutenção de hábitos. Quem nunca idealizou uma semana perfeita de estudos, leituras e exercícios, e acabou-se pego em frente à TV maratonando uma série? Quem nunca deixou para fazer um trabalho nos últimos minutos, na noite do dia anterior à apresentação, porque simplesmente enrolou?

Embora estejamos convencidos de que precisamos estudar, nem sempre conseguimos… e quando não conseguimos, vem um baita sentimento de frustração e derrota.

Estamos falando do ciclo da procrastinação.

Essa palavra que andou sumida, mas que tem voltado com força total nos debates da psicologia cognitiva, descreve um regime de comportamento humano marcado pelo adiamento: deixamos para depois muitas coisas e quando precisamos lidar com elas de fato, somos “pegos com as calças na mão”. Trata-se de um comportamento muito comum compartilhado por todos os seres humanos que tem alguma responsabilidade.

Mas como vencer a procrastinação?

Primeiramente, devemos eliminar os distratores, ou seja, tudo aquilo que possa tirar nossa atenção: celular, televisão, cama… O ambiente de estudo, nesse sentido, tem grande impacto. Imagine só: estudar na cama pode ser o mesmo que pedir para dormir; estudar com o celular ligado é o mesmo que pedir para mexer nas redes sociais. Desativar notificações, ter uma mesa de estudos, baixar aplicativos de bloqueio de redes sociais por determinado tempo são estratégias práticas para eliminação de distratores.

Planejando com eficiência

Outro desafio na luta contra a procrastinação, é a nossa desorganização. Como não fomos educados para o hábito de estudar por conta própria, nem sempre sabemos como fazer e aí acabamos não fazendo ou fazendo mal. O essencial é planejar os estudos como parte da rotina, ou seja, incorporá-lo ao seu cotidiano de forma que se torne um hábito. É preciso ter a hora de estudar, o local e o roteiro do que estudar. Não se deve forçar mais que duas horas de estudo e o período ideal para que haja absorção do conhecimento é de blocos de 25 a 30 minutos. A cada bloco de tempo, o estudante deve se levantar, tomar água, dar uma volta por alguns minutinhos e aí, retomar o estudo por mais um bloco de tempo.

Além de fazer o dever de casa, é importante reler os textos dos livros didáticos e refazer o percurso da sala de aula. Um instrumento muito eficiente é o mapa mental, elaborado depois da leitura contínua do conteúdo. Assim, o estudante tem acesso à memória de curto prazo, mas à medida que registra os conteúdos em formato de mapa, acaba elaborando sua própria compreensão e síntese.

Outro fator importante no planejamento dos estudos, é o bem estar físico. Não adianta tentar estudar com sono. Nesse caso, é melhor tirar um cochilo de 20 minutos e lembrar-se de pedir a alguém para lhe acordar – afinal, a função “soneca” dos despertadores, é uma inimiga do estudo!

E por fim, uma dica – e talvez a mais importante: APENAS COMECE!

Se ficarmos pensando demais em que fazer, em porque não fazemos, em como fazer, acabamos pensando demais e executando de menos.

Comece! O primeiro passo e mais difícil você já deu, aí então é só continuar seguindo as dicas e orientações que aqui apresentamos!

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